Ao que parece, este foi o grande injustiçado no Oscar. A maior parte da crítica achava que A Fita Branca, do diretor alemão Michael Haneke, deveria levar o prêmio de melhor filme, apesar de nem ter sido indicado nesta categoria. Na que ele foi indicado, para melhor filme estrangeiro, perdeu para o argentino El Secreto de sus Ojos.
É fácil entender o porquê de tanto barulho em cima de A Fita Branca. A fotografia fantástica em preto e branco e a narrativa simples, porém repleta de significados, coloca o filme no patamar das obras de arte, lembrando muito o trabalho de Ingmar Bergman. Um prato cheio para os intelectuais de plantão.
A Fita Branca se passa em 1913, e narra o período de um ano em uma pequena aldeia alemã. Como o próprio narrador diz, os eventos descritos terão grande importância em um fato histórico futuro – no caso, o nascimento do nazismo. Logo no início, o médico do vilarejo sofre um pequeno atentado. O autor do crime não é descoberto, e lentamente outros eventos assustadores tomam conta do lugar – o filho do barão é espancado, um celeiro incendiado, uma criança com deficiência tem seus olhos furados. Junto a esta pequena história policial, acompanhamos o dia a dia da aldeia. No centro dela está um grupo de crianças, bombardeadas pela repressão religiosa e o autoritarismo. Basicamente, são as relações entre os moradores do local que o filme lentamente aborda, sem tomar partido ou entregar respostas fáceis.
E que respostas. É na tarefa de compreender a origem do ódio alemão pelos judeus ou, indo mais longe, como nasce qualquer regime fascista, que Haneke se concentra. Assim ele explora o descaso dos grandes com os empregados, como no caso do barão. O egoísmo e cinismo da classe média, através da relação entre o médico e a parteira do vilarejo. E, finalmente, a mão pesada da opressão religiosa e educação rigorosa, por meio do pastor e seus filhos. São estas crianças que levarão adiante a ideologia na qual foram criadas, baseada na punição, delação e ódio.
Triste, porém verdadeiro. E, infelizmente, atual. Um filmaço.
O que é legal: Tratando-se de um filme de arte, é fácil pensar que ele possa ser chato. Porém, o que ocorre é exatamente o contrário. A Fita Branca possui diálogos sensacionais, e consegue prender a atenção por meio de suas atuações espetaculares. Não é um filme fácil e também não entrega respostas. Ao final, é impossível negar que realmente se trata de uma obra de arte.
O que não é legal: A Fita Branca passa longe do que podemos chamar de entretenimento. É lento, silencioso, não possui pontos de virada e nem um final explicativo. Digamos que ele está mais para um livro do que para um filme. Por isso mesmo, não ousaria indicá-lo para ninguém.
Cara, vi o filme e tinha achado mais ou menos. Depois de ler o que tu diz, to meio que mudando de opiniao.
vou procurar, não achei uma versão boa ainda.
Tive que ver em 4 sentadas porque dormi nas primeiras 3. Mas mesmo sendo um filme mais lento, achei foda e o diálogo do médico com a parteira é sensacional, ácido e verdadeiro. Ótimo filme, ótima resenha.
Beijão
[…] que só os argentinos conseguem ter. Mas não acho, de jeito nenhum, que seja mais filme que A Fita Branca, por exemplo, a ponto de tirar o Oscar […]